Repto

Manifesto

Péricles terá afirmado  que a retirada do cidadão da vida pública para a privada não era aceitável: “Aqui cada indivíduo interessa-se não só pelos seus próprios problemas mas também pelos assuntos do Estado... não dizemos que um homem que não se interessa pela política é um homem que trata da sua vida; dizemos que aqui ele não tem de todo cabimento.”

Há momentos na vida que definem o rumo que seguimos pelo resto dos nossos dias.

Momentos há, em que decidimos deixar de nos mantermos acomodados às vidas mais ou menos fáceis que vamos levando.

Fala um homem simples, nascido num meio não muito abastado, mas suficientemente rico para lhe permitir aceder a tudo aquilo que necessita sem para tal necessitar de fazer qualquer esforço extraordinário. Claro que é necessário esforço para alcançar os objectivos que nos vamos impondo, não quero fazer demagogia e dizer-vos que a vida sucede sem esforços; no entanto, tive sorte em ter nascido num meio socio-económico-cultural que valoriza a aprendizagem e me foi facultando o acesso à cultura.

Nasci e cresci num contexto de valores judaico-cristãos, sendo um dos que mais valorizo a TOLERÂNCIA.

Desde muito novo aprendi que, sempre que um homem, ou grupo de homens, pensa possuir a Verdade começa a errar e a atentar contra o próximo. Aprendi também que, só pelo respeito mútuo das convicções do outro se mantém a liberdade; que LIBERDADE e PAZ são sinónimos e condições mutuamente essenciais.       

Tenho uma existência supostamente fácil, sinto-me realizado nos planos afectivo, material, social e profissional.

Neste momento devem interrogar-se porque escrevo?

Resolvi escrever porque, ou apesar de vivermos, talvez, os melhores dias da humanidade – nunca o Homem teve tanto, pelo menos, nunca tantos tiveram uma existência tão fácil – eu, como tantos outros cidadãos, sinto uma terrível insatisfação.

Insatisfação porque não me revejo na política nem nos políticos que temos no meu país nem na comunidade de países em que este se integra. Não é que não concorde com esta união, sou até um seu acérrimo defensor. Também não discordo dos princípios básicos do sistema político que lhes assiste. Acredito na democracia, como historicamente foi concebida e com os propósitos que daí advêm.

No que deixei de me rever, foi no obscurantismo em que a política e os políticos se envolveram.  

“não há nada mais perigoso do que uma sociedade democrática sem instituições democráticas” - W. L. Guttsman -

Tomei a firme resolução de deixar de ser um idiota, isto é, um indivíduo particular, abstraído dos deveres de cidadania – quero assumir as minhas obrigações políticas, consequentes ao facto de acreditar numa democracia participativa.

Tenho estudado as filosofias e apreciado as práticas dos partidos da nossa cena política, bem como filosofias  políticas que governaram noutros tempos e noutros estados. Não me revejo neles ou, pelo menos, naquela que tem sido a sua aplicação às populações humanas.

Acredito na liberdade, como único meio de realização do Homem.

Defendo que poder e a autoridade governativos devem ser limitados por um sistema de regras e práticas constitucionais no qual a liberdade individual e a igualdade dos indivíduos sejam respeitados sob o domínio da lei.

As actividades autoritárias ou coercivas do governo devem restringir-se ao mínimo exigido para manter a justiça.

Faz parte da actividade governativa o planeamento e execução de um contrato social racional que promova o bem estar geral. Para tal deverá projectar-se regulamentação constitucional da política fiscal e monetária, de modo a evitar arbitrariedades na política de tributação. Esta deverá ser orientada por regras gerais, de tal modo que os governos sejam impedidos, nas suas actividades de serviço, de refrear a liberdade económica de modos subtis e encobertos.

Quanto ao papel do governo no plano macro-económico, a experiência histórica sugere que as políticas intervencionistas são autolimitadas nos seus efeitos e agravam  as desordens que pretendem resolver, pelo que não parece haver justificação racional para a opinião comum de que o planeamento económico possa fazer melhor que o mercado livre.

Cumprimentos,

Gomes da Silva, Jorge 

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